Lá estavam elas. Quase 100 meninas que nos esperavam cantando em frente a uma das casas do projeto Meninas dos Olhos de Deus (The Apple ofGod’sEyes) na cidade de Kathmandu, no Nepal. As vozes afinadas entoavam uma melodia simples de boas-vindas em nepalês e depois, para nossa surpresa, em português. A emoção da chegada tirou lágrimas de nossos olhos cansados de quase 30 horas de viagem. Ao entrarmos pelo portão, duas meninas pequenas correram para colocar em nós um colar de flores e uma echarpe amarela, nos dando um caloroso abraço.
No decorrer da semana, minha esposa Rosana e eu fomos conhecendo a beleza e os desafios desse impactante projeto, que há 14 anos é liderado pelo pastor brasileiro Silvio Silva e sua esposa Rose.
O número de meninas resgatadas e restauradas por esse trabalho é impressionante. Desde o seu princípio, já passaram pelas casas mais de 200. A maioria, de origem pobre, foi resgatada de bordéis e antros de prostituição no Nepal e na Índia. As demais vieram ainda pequenas por vagarem pelas ruas, por abuso ou negligência, por estarem em risco de serem vendidas entregues pelos pais ou cuidadores que vivem na miséria. Hoje, 108 meninas e 44 meninos (agora já incluídos no projeto) estão divididos em cinco casas. Recebem abrigo, alimentação, vestimenta, estudo, assistência médica e dentária.
À medida que as meninas atingem 21 anos e os meninos 18 anos, todos são desafiados a retornarem às suas famílias, quando isso é possível. São incentivados a viver em pequenos grupos como família, buscando o próprio sustento (Projeto Free to Fly), sendo assim reintegrados também à sociedade. A grande maioria tem uma experiência verdadeira com Cristo, o que torna a missão ainda mais relevante. O projeto conta ainda com uma escola bem estruturada, que além de atender os internos, atende também as crianças da comunidade ao redor, formada de hindus e budistas. Ao término do ensino fundamental, a escola oferece o treinamento profissionalizante, que facilita a integração social. Muitas meninas já saíram das casas em função também de casamentos, que são sempre recebidos com euforia.
Os testemunhos são impactantes. Nenhuma delas tem uma história que não emocione qualquer alma. Principalmente, as que tiveram que lutar por sua liberdade, enfrentando até mesmo em tribunais os traficantes que as levaram para a prostituição tanto local, quanto na distante Índia. Contudo, a restauração torna-se maior, pois onde abundou a destruição e o pecado, superabundou a graça e o amor resgatador de Deus.
O trabalho iniciado pelo médico e pastor José Rodrigues da Missão Cristã Mundial (MCM), sediada em Goiânia, é audacioso. Além das casas no Nepal – Nepalese Home, já tem pessoas enviadas ao Camboja, Tailândia e Índia. MeenaShahi, uma das meninas restauradas, recém-casada, já está de mudança para Bangladesh, onde irá implantar o trabalho e declara: “Quero ajudar muitas meninas a encontrar a vida que eu encontrei”.
O ministério também provê bolsas de estudo mensais para cerca de 1.300 crianças no território nepalês, o que ajuda a mantê-las longe da zona de risco.
Entretanto, o que mais chamou a atenção foi o amor que move toda a estrutura. Quem vem de fora percebe nos olhos e abraços das crianças, assim como no coração de todos que por ali trabalham, a incondicionalidade da entrega. Silvio e sua família, juntamente com o pequeno contingente de voluntários, na maioria brasileiros, deixaram o conforto de sua terra distante e se comprometem de corpo e alma com esta relevante missão de resgate, levando o “ide, fazei discípulos de todas as nações” a um extremo pouco visto. Minha esposa Rosana sintetizou o que vimos nesse trabalho no Nepal: “É uma visão impactante do poder e do amor de Deus, mudando destinos e transformando vidas”.
Não foi difícil ver por que esse projeto chama-se Menina dos Olhos de Deus.
Do Nepal, Asaph e Rosana Borba
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