Cheio de reviravoltas, contradições e com muitos detalhes que ainda precisam ser esclarecidos, as denúncias da estudante de jornalismo Patrícia Lelis, 22 anos, dão conta que ela foi assediada, agredida e vítima de uma tentativa de estupro por parte de Feliciano.
O deputado sempre negou as acusações, mas vinha mantendo silêncio desde que a história vazou para a imprensa, no último dia 3.
Ao longo de uma hora, Cabrini mostrou várias versões do que teria acontecido, que incluíam duas entrevistas com Patrícia e uma com o parlamentar. Também ouviu Talma Bauer e Emerson Biazon, que são elementos-chave dentro da trama que parece ter saído de uma produção de Hollywood.
A polícia está investigando o caso em duas frentes, pois Patrícia registrou dois Boletins de Ocorrência (BO) diferentes. Em São Paulo, denunciou Talma Bauer, Emerson Biazon e Marcelo Machado por coação e cárcere privado. Já na capital federal as acusações são contra Marco Feliciano por assédio sexual.
Um programa, 4 versões
Logo no início, o Conexão Repórter lembrou as polêmicas na trajetória política de Feliciano, chamado de “radical”, “moralista” e “homofóbico”. Foram apresentadas as versões do deputado, da jovem que o acusa, do chefe de gabinete e de um dos ‘intermediários’ de Patrícia.
Os primeiros minutos mostraram uma visita ao apartamento ocupado pelo congressista em Brasília, onde a jovem alega que o crime ocorreu. Aparentando tranquilidade, Feliciano começa a entrevista afirmando que está falando a verdade, pois nesse momento “Ao faltar com a verdade iria destruir com a minha vida”.
Disse que não teria problemas em admitir seus erros, mas não tem o que confessar. Classificou os relatos de Patrícia como uma “História fantasiosa, lunática”, insistindo que se trata de injúria e calúnia contra ele.
Ao subir no prédio para realizar a entrevista, o jornalista do SBT mostrou que é necessário fazer um registro na portaria. Não há nenhuma entrada com o nome da estudante nos livros de entrada do prédio, o que indicaria que Patrícia nunca esteve na residência do pastor.
Feliciano também questiona alguns pontos do relato da estudante, a qual insiste que o estupro só não se consumou por que uma mulher que estava no corredor do prédio teria ouvido seus gritos e batido na porta do apartamento. Ela nunca foi identificada. Insiste na tese de que não haveria motivos para ela demorar 40 dias para procurar a polícia, mostrando convicção que pode haver “alguém” querendo lhe prejudicar com tudo isso.
O principal argumento de defesa do parlamentar do PSC é que na data e horário em que Lélis relatou no B.O como o momento das agressões, Feliciano estava em audiência com o ministro do Trabalho Ronaldo Nogueira. Fato confirmado pelas imagens das câmeras de segurança do prédio. O pastor ficou mais de uma hora no local e também há registros do momento em que ele sai.
Esse não é o único problema na versão de Patrícia. Nos dois relatos feitos a polícia ela caiu em contradição, indicou endereços diferentes. Nenhum deles correspondem ao local onde o deputado mora. “Ela nunca entrou aqui”, assegurou o parlamentar a Cabrini, ao falar sobre a sua residência. Além de negar qualquer tipo de relacionamento com a estudante, o pastor explicou que esteve com ela apenas três vezes e nenhuma delas os dois estiveram sozinhos.
Ao repórter disse não ter conhecimento das negociações de seu assessor com Patrícia, ignora o porquê ele ter dado dinheiro a ela. Diz que o dinheiro não é seu nem foi dado por sua ordem. Garantiu que só tomou conhecimento dessa situação pela imprensa.
O pastor assegurou ter convicção que “Deus é justo” e comparou toda essa situação com o que passou José do Egito. Dirigindo-se aos evangélicos, Feliciano lembrou que o personagem bíblico “foi condenado por uma calúnia. José foi preso, mas eu não serei”.
Patrícia não muda de versão
Por sua vez, Patrícia Lelis repetiu no programa de TV o mesmo relato que deu à imprensa desde que o caso veio à tona. Como provas, apresentou os prints de conversas que supostamente teve com o deputado através do WhatsApp.
Ao ser indagada por que demorou 40 dias até registrar a queixa na delegacia, asseverou que sabia contra quem estava lutando. “Marco Feliciano tem tudo que eu não tenho: apoio, dinheiro e foro privilegiado”, sublinhou.
Contou detalhes sobre a manhã onde teria sido assediada sexualmente, tendo se deslocado até o apartamento de Marco Feliciano para uma reunião do partido. Reforçou a ideia de que Feliciano lhe fez proposta financeira para que fosse sua amante e que ela não aceitou.
Diante da recusa, o parlamentar a teria ameaçado com uma faca, exigindo que se despisse. A jovem diz que o vestido que ela usava naquela data teria “uma marca” que comprovaria o uso da arma branca. Mas ela não foi mostrada para a equipe de TV. Deu alguns detalhes do que teria se passado no apartamento até que apareceu a mulher que teria batido na porta.
Lelis nega que tinha interesses no partido, mas que como conhecia o presidente da sigla, o pastor Everaldo Pereira, o procurou para denunciar o ocorrido. Segundo ela, a resposta foi a oferta de “um saco de dinheiro” em troca de seu silêncio. Algo que assegura nunca ter pedido nem aceitado. Para a jovem, é revoltante que embora tenha procurado vários políticos não recebeu crédito. “Toda a bancada evangélica estava sabendo”, disparou, sem citar nomes.
O pastor Everaldo Pereira admitiu que a jovem teve um encontro com “a parte executiva do partido”. Mas negou que tenha oferecido dinheiro para a estudante. Classificou os relatos dela como “totalmente mentirosos” e “criminosos.
Na parte final da entrevista, Roberto Cabrini perguntou sobre o primeiro caso de estupro que ela diz ter sofrido. Um relato que nunca foi totalmente esclarecido. Quando procurou a polícia, ela não sabia descrever o homem, que teria entrado em sua casa para consertar uma máquina de lavar. Na ocasião ela tinha 15 anos.
No final, Patrícia explicou que não perdoa marco Feliciano, usando “nojo” e “ódio” para se referir a ele, reclamando sobretudo que ele “acabou com a minha imagem”.
Em uma breve aparição frente às câmeras, a mãe de Patrícia diz ter certeza que os fatos descritos pela filha realmente aconteceram.
Emerson filmou para se proteger
Toda a situação teria se resumido ao confronto das versões de Maro Feliciano e Patrícia Lelis se não fossem os vídeos gravados pelo assessor político Emerson Biazon. Entregues à polícia e também repassados para alguns órgãos de imprensa, as filmagens feitas por ele mostram o que aconteceu em São Paulo nos dias em que Patrícia relatou no BO que estava sendo ameaçada, coagida e sob cárcere privado.
Aprecem então o nome dos três “intermediários” que teriam de algum modo servido para receber dinheiro vindo do deputado e que chegariam até as contas da jovem. Arthur Mangabeira e Marcelinho são citados, mas não aparecem nas filmagens.
Biazon explica que resolveu filmar o que pôde para comprovar sua inocência após ter percebido que poderia ser envolvido de alguma maneira.
Além dos vídeos disponibilizados por ele, o programa do SBT mostrou imagens das câmeras de segurança do hotel, as quais comprovam que não houve sequestro.
Emerson disse a Cabrini que a jovem queria dinheiro. Ela teria tentado vender a história de seu envolvimento com Feliciano para vários jornalistas, mas nenhum aceitou pagar. Sendo assim, ela decidiu aceitar uma oferta de Bauer pelo seu silêncio.
O papel de Biazon seria o de intermediário, mas antes do encontro com Talma Bauer no hotel, o assessor de Feliciano já teria dado 50 mil reais a Arthur Mangabeira, algo que Patrícia desconhecia. Num dos vídeos fica clara a negociação da estudante com Bauer e que ela tinha alguma influência sobre ele, a ponto de pedir que ele “fizesse alguma coisa” contra o primeiro intermediário, que a enganou, repassado apenas 10 mil.
Ainda que Lelis negue constantemente ter pedido ou recebido dinheiro, além dos vídeos, Emerson forneceu tanto à polícia quanto ao SBT outros prints de conversas que teve com ela, onde fica evidente que existia uma negociação acontecendo ao longo de vários dias.
Isso é facilmente comprovado pelo fato de ser Bauer quem pagou tanto a passagem da jovem até São Paulo, quanto o hotel onde ela se hospedou, além de ter dado dinheiro para suas despesas durante a estadia dela na capital paulista.
Quando a polícia deteve Emerson e Bauer, no início das investigações, havia 20 mil reais em espécie, que fariam parte do pagamento à Patrícia. Ela passou o tempo todo da reportagem afirmando que não recebeu nada.
Pelo relato de Baizon, as negociações iniciadas por Arthur com Bauer começaram em um milhão de reais, foram baixando até 300 mil, sendo que o primeiro pagamento “fechou” em 50 mil. Ele finaliza dizendo ter certeza que Lelis quer “vingança” contra o deputado. Negou que o chefe de gabinete estivesse armado ou feito ameaças, algo que faz parte do B O de Patrícia. Ao mesmo tempo, assegura que Bauer falou o tempo todo com Feliciano, o qual estaria a par de tudo.
Bauer teria agido para evitar um “mal maior”
Talma Bauer também foi ouvido pela reportagem do SBT. Afirmou que existia uma manipulação por parte de Patrícia. Ele, como chefe de gabinete, queria “evitar um mal maior”. Portanto, tirou de suas economias o dinheiro dado à jovem.
Frisou que tomou várias atitudes sem comunicar ao chefe, por que as coisas estavam “indo bem”. Ele diz que ela usaria esse dinheiro para “pagar a faculdade”. Enfatiza que os relatórios da jovem são mentirosos. Após ser detido e prestado depoimento à polícia duas vezes sobre as declarações da estudante, ele está livre das acusações de coação e cárcere privado.
Ao Conexão Repórter, o delegado Luís Roberto Hellmeister, do 3º DP de São Paulo, onde o primeiro BO foi lavrado, disse que Patrícia pode passar de vítima a suspeita dos crimes de extorsão e falsa comunicação de crime. No final do programa, foi dada a informação que Talma Bauer pediu exoneração do cargo que ocupava no gabinete de Feliciano “até tudo ser esclarecido”.
Assista:
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Fonte: Gospel Prime
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