quarta-feira, 12 de abril de 2017

Em meio à violência, igrejas evangélicas se multiplicam nas favelas

O pastor Marcio Antônio prega no púlpito de uma pequena igreja construída em terreno cercado por arames farpados e fios elétricos. Sua mensagem é que os fiéis precisam ser testemunho na favela que residem, na periferia do Rio de Janeiro.
O líder religioso, um ex-traficante na mesma favela Cantagalo, onde hoje pastoreia uma Assembleia de Deus, sabe que a maioria dos moradores mora em terrenos invadidos e não possuem escrituras das suas casas.
Ele e seu rebanho fazem parte de uma tendência crescente no Brasil. Igrejas evangélicas estão se multiplicando nas favelas e comunidades de baixa renda. A maioria delas não possuem a estrutura dos bairros, em termos de saúde, saneamento básico, transporte e registro de imóveis.
“O governo não nos ajuda, por isso Deus é a única opção para os pobres”, explica o pastor Antonio, 37 anos. Vestindo terno e gravata, como em todos os domingos, Marcio nasceu e foi criado no Cantagalo, onde prega regularmente para cerca de 24 pessoas toda semana. Testemunha que, assim como muitos outros jovens pobres, foi a tentação do dinheiro fácil que o levou para o tráfico de drogas antes de ter encontrado a Deus e recebido uma missão de vida.
“Existem muitos problemas aqui na favela”, desabafa o pastor, enumerando “a pobreza, desemprego, o crime, problemas de saúde mental e a igreja ajuda a comunidade com essas coisas”.
É nas favelas e nas comunidade mais carentes, ignorados pelo governo que as igrejas evangélicas oferecem programas sociais, que incluem educação, segurança e  desenvolvimento econômico. Entre outras coisas, ajudam a formar cidadãos que, conforme os especialistas, ajudam a fortalecer o pensamento conservador.

Governo ausente

Os evangélicos já são mais de 20% dos 200 milhões de habitantes do Brasil. Eram menos de 3% em 1940,  levantamentos. É o movimento religioso que mais cresce no país há décadas.
Jeff Garmany, professor do Instituto Brasil no King’s College, na Inglaterra, estuda esse fenômeno. Ele explica que nas favelas, a proporção de evangélicos é geralmente maior, por vezes chegando até cerca de 50% dos moradores.
“As pessoas que moram nessas favelas lidam com questões graves, como o preconceito, a pobreza e a violência”, assegura. “A incapacidade do Estado de lidar de maneira adequada  com essas questões permite que as igrejas cresçam e alcancem as pessoas que moram ali”.
Estima-se que cerca de 20% da população brasileira viva em comunidade carentes e o crescimento do percentual de evangélicos entre eles vem gerando um novo tipo de poder político.
“As igrejas evangélicas não estão oferecendo apenas ideias religiosas, estão tratando de assuntos sociais com os quais as pessoas se confrontam todos os dias”, resume Garmany.
Na favela do Cantagalo, que reúne 30 mil pessoas, há duas igrejas católicas e mais de 15 evangélicas, revela  o pastor Antonio.  Isso mostra a presença maciça dos “crentes” nas comunidades.
Segundo os fiéis, as comunidades religiosas oferecem aos moradores desses lugares um sentimento de comunidade e de segurança.
“Somos como uma família”, sublinha Luana de Souza, uma dona de casa que frequenta a Igreja Assembleia de Deus do Cantagalo. “A igreja nos ajuda de várias maneiras, incluindo encontrar trabalho e ter acesso à educação”. Em meio à desigualdade social do país, isso é transformador.
Laiana Almeida, uma babá que veio do Nordeste para o Rio de Janeiro três anos atrás, a explicação para o crescimento das igrejas evangélicas nas favelas é simples. “A igreja oferece o que o mundo não pode nos oferecer. A igreja me dá as coisas que o mundo físico não pode dar”, encerra. 

Com informações Reuters

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