Em 2013, Bashir Mohammad estava na linha de frente da al-Nursa, um ramo da al-Qaeda na Síria. Quatro anos depois, junto a mais 22 refugiados, ele se reúne em um subsolo de um prédio em Istambul, na capital da Turquia. Entre eles, havia um Abdelrahman e outros Mohammad’s. Não se tratava de uma simples oração islâmica. Os refugiados brincam com Bashir sobre ser um ihrabi (terrorista). Não é para menos: o homem que lutava pela al-Nursa possui uma cruz na parede e reúne pessoas para leituras da Bíblia semanalmente.
A história de Bashir Mohammad começou no norte da Síria, em Afrin, na região curda do país. Lá, Mohammad cresceu em uma família muçulmana, em contato direto com o extremismo na adolescência. Aos 15 anos, um primo levou Bashir a ouvir pregadores jihadistas.
Em 2011, quando estourou a Primavera Árabe, Mohammad se juntou às forças curdas para lutar pela independência de sua região. Após ter contato com diversas mortes brutais, Bashir decidiu lutar em favor dos muçulmanos. “Quando eu vi todos esses cadáveres”, lembra ele, “isso me fez acreditar em todas as coisas que eles diziam nas palestras. Isso me fez buscar a grandeza da religião”, disse em entrevista ao jornal The New York Times.
Quando um amigo o convidou a lutar no verão de 2012 para a Frente al-Nusra, grupo que procura estabelecer um estado extremista, Mohammad prontamente aceitou. Como um lutador da al-Nusra, ele continuou a testemunhar brutalidade extrema. Seus colegas executaram vários prisioneiros, esmagando-os com uma patrola. Outro prisioneiro foi forçado a beber vários litros de água depois que suas genitais foram amarradas com corda. “Eles costumavam nos dizer que essas pessoas eram os inimigos de Deus. Assim, eu olhei positivamente sobre essas execuções”, lembra Mohammad.
Ao voltar para casa para festividades do ano novo curdo, Mohammad assustou seus familiares com o temperamento arrogante e grosseiro. Ele sofreu pressão de sua noiva e pais para não voltar à al-Nursa, mas Bashir os ignorou. Ao voltar à guerra, ele viu o grupo terrorista matando diversos civis com escavadeiras. “Fui a al-Nusra em busca do meu deus”, diz ele. “Mas depois que vi muçulmanos matando muçulmanos, percebi que havia algo de errado”, conta.
No ano de 2014, Mohammd e sua esposa, Hevin Rashid, fugiram para Istambul, na Turquia. Ainda como um temente muçulmano, Mohammad orava tão alto que incomodava os vizinhos. “Eles costumavam me perguntar: ‘Quando você vai se transformar em profeta?’”. Ele ainda exigia que sua esposa cobrisse cabeça e pescoço.
Foi, no entanto, a própria Rashid que, involuntariamente, provocou a saída do seu marido do islã. No início de 2015, ela ficou gravemente doente. Como sua saúde piorou, Mohammad telefonou para seu primo Ahmad – o mesmo primo que o tinha levado a palestras jihadistas quando adolescente. Ahmad estava vivendo no Canadá e tinha feito uma mudança que chocou Mohammad: ele tinha se convertido ao cristianismo.
Um entusiasmado convertido, Ahmad pediu a Mohammad que colocasse seu telefone perto de Rashid para que seu grupo de oração pudesse cantar e orar por sua saúde. Inicialmente, Mohammad recusou. Mas, como a saúde de Rashid piorava, ele, desesperado, cedeu. Em poucos dias, Rashid melhorou totalmente. Intrigado, Mohammad pediu a seu primo para recomendar um pregador cristão em Istambul. Ele foi posto em contato com Eimad Brim, um missionário de um grupo evangélico que concordou em se encontrar com ele.
Para Mohammad, ler a Bíblia o tornou mais calmo do que ler o Alcorão. Além disso, para ele, as orações cristãs eram mais generosas do que as muçulmanas.
Quando o casal começou a considerar deixar o islã, Rashid sonhou com uma figura bíblica que usava poderes celestiais para dividir as águas do mar, o que Mohammad interpretou como um sinal de encorajamento de Jesus. Então, o próprio Mohammad sonhou que Jesus lhe tinha dado comida. O casal se sentia amado. “Há uma grande diferença entre o deus que eu costumava adorar e aquele que eu adoro agora”, disse Mohammad. “Nós adorávamos com medo. Agora, tudo mudou.”
Para Mohammad, tudo isso tem, contudo, um preço alto. Sua rejeição ao islã faz dele um alvo para seus antigos aliados extremistas, e ele teme que algum dia o alcancem. Se o fizerem, no entanto, ele considera que, agora, ele tem a maior proteção de todas. “Confio em Deus”, finalizou ao The New York Times.
Com informações do The New York Times
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