“Hoje eu sei, viver por outro alguém é bem viver”, o trecho da música “Mais um Dia” não é apenas uma estrofe bem alinhada do cantor Juliano Son, mas a escolha de vida que o líder do Ministério Livres resolveu tomar junto a sua família. Descendente de imigrantes coreanos, Juliano já desenvolvia em São Paulo o projeto Livres Ser, mas resolveu levar as malas junto com a esposa Daniele e os dois filhos, Lucas e Filipe, para as terras do Piauí. A proposta é cuidar ainda mais de perto das ações sociais do Sertão.
À frente do Instituto Livres Ser, Juliano desenvolve projetos em várias vertentes como exploração sexual, dessalinização da água salobra do Sertão, criação de escolas e abrigos para crianças carentes, entre outras iniciativas. O cantor paulistano esteve na última semana no Confrajovem e entre uma ministração e outra, parou um pouco para relatar ao Lagoinha.com os projetos que tem realizado no nordeste brasileiro.
Lagoinha.com: Durante sua participação no Confrajovem, você estava vestido com a camisa do projeto “Mais Água”. Discorra um pouco sobre esse trabalho.
Juliano Son: “Mais Água” é um instrumento que busca viabilizar soluções para as comunidades que não têm acesso a água potável. Por enquanto, é uma iniciativa independente, com auxílio de parcerias de amigos e igrejas. O projeto atua especialmente no Sertão Nordestino, hoje mais focado no estado do Piauí. No entanto, no próximo mês faremos uma intervenção em uma cidade pequena localizada no sertão do Ceará. O projeto busca promover ações a partir de um estudo da região e assim, levar a melhor solução para a comunidade que não tem saneamento básico nem acesso a água potável.
Lagoinha.com: O que seria essa “solução”?
Juliano Son: O subsolo do Sertão é rico em água. Há um grande lençol freático, mas nas regiões onde não chove, os sais presentes na água subterrânea se cristalizam e a tornam salobra e até salgada em alguns lugares. A sensação que se tem é que ela é tão salgada quanto à do mar. Em muitas regiões, as pessoas, por não terem outras opções, acabam consumindo desse líquido. O que temos entendido é que uma solução de custo/benefício para os poços já perfurados na região é um processo de dessalinização. É como se fosse uma espécie de um filtro específico para tirar o sal da água.
Lagoinha.com: Quantas pessoas têm sido atendidas?
Juliano Son: Cada sistema é capaz de atender de 2 a 3 mil pessoas ou até mais. Vou citar o exemplo da cidade de Capitão Gervásio (Pi). Quando fizemos a intervenção nesse município, o sistema foi criado para atender exatamente duas mil pessoas, mas sabemos que mais moradores têm sido beneficiados. Além das cidades vizinhas que também usufruem do projeto, muitas pessoas de outros lugares acabam sabendo do trabalho em Gervásio e buscam água nesse local.
Lagoinha.com: Você informou durante o Confrajovem 2014 a respeito de uma campanha a ser realizada com a igreja para acabar com a seca no Sertão Nordestino. Como seria esse projeto?
Juliano Son: Essa campanha é na verdade uma iniciativa para conscientização da população. Muitas pessoas não são informadas da situação crítica do Sertão. Eu mesmo não sabia que o Brasil da Copa, das Olimpíadas, é também o Brasil da sede. Não sabia que na nossa nação existiam pessoas bebendo águas fétidas, barrentas, carregadas de coliformes fecais e bactérias. Uma água que não é digna de seres humanos beberem. Não sabia que há região no nosso país onde mães preparam a mamadeira com leite em pó e água fétida.
Sabemos que essa água traz doenças e mata. Conversei com uma agente de saúde de Capitão Gervásio e tive notícias que 85% da população não tem condições de comprar água potável. Estamos falando dos pobres dentre os pobres. Capitão Gervásio é um pequeno município no centro sul do Piauí. Ela me informou então que 85% da comunidade bebia água de uma barragem carregada de elementos desconhecidos, porque quando a chuva chega, como não existe saneamento básico, leva toda imundícia da cidade para a represa. Sendo assim, parte da população bebia dessa água impura ou da água salobra no poço do município.
Por fim, nos contou que 80% das pessoas atendidas pelo SUS naquela cidade tinham como causas das doenças relacionadas ao consumo da água salobra e da barragem. A água salgada, quando ingerida por um longo período, afeta os rins, a bexiga, aumenta a pressão arterial, enfim, traz diversos males como vômitos, diarreia, desidratação. Por esses motivos, a situação dos nordestinos precisa de um olhar da população brasileira. A sociedade precisa ser conscientizada de tal situação para que possamos encontrar no poder público e com as pessoas do bem, uma resposta de auxílio. A nossa (Livres) oração é para que ainda nesta geração possamos ver a sede erradicada no Brasil, para a glória do Senhor.
A partir do projeto “Mais água” estamos contatando pessoas de diversas áreas do meio artístico, empresarial e religioso, para que quando o tempo chegar, em uma só voz, possamos tocar a “trombeta”. Porque esse projeto não é meu, não é do Livres, é da Igreja, do povo brasileiro, das pessoas do bem que se importam com o próximo e com aqueles que por muito tempo têm sofrido. Vivemos em uma nação que, se quisermos, podemos acabar com a sede no Brasil.
Lagoinha.com: O livres tem o projeto “Mais água”, mas também atua em outras áreas como no caso da exploração sexual. Há dados que registram que nos países que sediaram a Copa, o número de casos de exploração sexual aumentou consideravelmente, você acha que essa é também uma realidade brasileira?
Juliano Son: Existem equipes organizando campanhas de conscientização para inibir a exploração a nível global; para dificultar esse tipo de “turismo”. Temos informações por via de outras organizações que lá fora, pessoas da “escuridão” vêm unicamente para isso, para aproveitar o momento e destruir vidas. Infelizmente, é uma realidade também brasileira e, por isso, precisamos nos levantar para combater, inibir e conscientizar a população.
Lagoinha.com: A Bíblia diz que a verdadeira religião é ajudar os órfãos e as viúvas em suas necessidades, ou seja, ajudar os menos favorecidos. Você acha que a igreja brasileira está cumprindo esse chamado?
Juliano Son: Isso quem pode responder é o Senhor. O que podemos fazer é alertar, conscientizar e levantar uma palavra profética às pessoas que, por ventura, estejam adormecidas. É levá-las a olhar para onde o Senhor está olhando, porque Deus nos convida para olharmos para Ele. E procuramos fazer isso, tanto no louvor, quanto nas atitudes. Ao olharmos para o Senhor precisamos entender para onde Ele está direcionando o Seu olhar. Devemos perceber que Ele olha para baixo e nos convida a olhar para a mesma direção, onde estão os caídos e necessitados.
Lagoinha.com: A pastora e cantora Ana Paula Valadão gravou no ano passado o CD/DVD “Tu Reinas” no Sertão, inclusive com sua participação na música “Santo”. Ela fez uma intensa mobilização para a igreja concentrar os esforços nessa região do Brasil. Vocês têm algum tipo de parceria com a Ana em relação ao trabalho no Sertão?
Juliano Son: Na verdade, temos uma parceria no espírito, porque foi algo que nasceu sem comunicarmos ou combinarmos algo um com o outro. Foi uma direção que o Senhor falou ao coração da Ana e também ao nosso. Acredito que Deus tem despertado uma geração que tanto concentrará os esforços, quanto dedicará a vida à realidade do Sertão. É a nossa janela10/40 é a região menos alcançada pelo Evangelho. Existem centenas e ouço dizer milhares de vilarejos que não há trabalho missionário. É tempo, é mais do que tempo, da Igreja, da juventude e de todo aquele que nos lê voltarem os olhares para a seca do Sertão Nordestino, um lugar onde muitos têm clamado.
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Fonte: Lagoinha.com