A defesa dos princípios cristãos é algo muito caro aos evangélicos. Tenho me dedicado nos últimos anos a escrever e me pronunciar sobre o tema, inclusive em telejornais e programas da TV brasileira. Aliás, pronunciei-me até para a rádio BBC de Londres em entrevista que foi ao ar na Inglaterra. Acho que os cristãos devem estar atentos a questões sérias que tentam impor a toda a sociedade, mesmo com a discordância da maioria, como é o caso do aborto e outros assuntos polêmicos.
Contudo, o cotidiano das pessoas, inclusive dos cristãos, é muito influenciado por outros temas que não são destacados em boa parte das mídias evangélicas, e que são problemas endêmicos nacionais históricos. Há debates em rádios para discutir os temas mais variados ligados às igrejas, inclusive temas irrelevantes que fomentam dissenção entre elas, mas temas ligados às mudanças estruturantes que o país precisa para transformar a vida dos cidadãos, da família brasileira, não encontram o espaço adequado na maioria dessas mídias.
Por outro lado, detentoras da fidelidade de audiência do povo evangélico, especialmente por tocarem as músicas preferidas deste público, estas emissoras promovem em períodos pré-eleitorais eventos nas igrejas que são verdadeiros showmícios, levando o povo a assistir, gratuitamente, os grandes nomes da música gospel. Os pastores, ou por acordos políticos, ou por desejarem ver suas igrejas lotadas, emprestam seus locais de culto a Deus para eventos que tornam seus templos casas de shows e seus púlpitos pistas de desfile e palanques políticos disfarçados.
Essa forma de burlar a lei eleitoral que proíbe showmícios se constitui em uma versão nada evoluída da prática milenar do “pão e circo”, – uma política criada pelos antigos romanos, há 2000 anos, que dava comida e diversão para o povo com o objetivo de diminuir a insatisfação popular contra os governantes. Enquanto o povo assiste, em ‘culto’ lotado, a apresentação de artistas famosos gratuitamente, embora muitos recebam cachês dos políticos anfitriões que estão por trás das cortinas, não se dá conta de que as desgraças do seu dia a dia acontecem na maioria das vezes por omissão dos patrocinadores daquela ‘ilegalidade’ que as igrejas se prestam a fazer.
Muitos dos patrocinadores de shows e outros que têm suas placas ‘onipresentes’ em toda a cidade possuem campanhas milionárias com todo o tipo de estrutura, como carros e muitas pessoas trabalhando de forma remunerada. Isso afronta o argumento de que falta recursos para comprar remédios e construir infraestrutura em hospitais, o que obriga os médicos a escolherem quem vai viver e quem vai morrer, ou pelo menos ter de suportar mais tempo o sofrimento, por omissão de socorro por falta de condições de atender a quantidade de pessoas nas filas de espera de exames, consultas, cirurgias e atendimentos de emergências.
Essas práticas dignas de países de baixo nível cultural se proliferam nas igrejas porque o povo evangélico, como os religiosos de um modo geral, é de boa fé e acredita nos seus líderes. Muitos chegam a confundir as escolhas pessoais dos seus líderes, e até acordos inconfessáveis, com a direção de Deus. Os acordos políticos impedem alguns líderes de cobrarem dos governantes e parlamentares medidas efetivas para pôr fim ao holocausto que acontece nos hospitais públicos e na segurança pública. Isso os tornam cegos às necessidades de reformas estruturais no Brasil. Não se dão conta que o baixo nível cultural das pessoas as aliena, levando-as a fazerem escolhas políticas erradas e a perpetuarem as mazelas sociais no país.
Pior ainda, parece que não sabem que o Brasil é um país rico, mas eminentemente agrícola. Temos gênios que vão produzir tecnologia no exterior e retiram do nosso país perspectivas futuras, porque não investimos e nem valorizamos adequadamente a produção tecnológica. Somos um dos países mais desiguais do mundo. Temos uma sociedade em que a injustiça pesa de forma mais cruel sobre os mais pobres que sequer conhecem claramente seus direitos ou têm acesso adequado à justiça.
Querem oferecer, pela televisão, uma mensagem de um evangelho que muitas vezes difere do evangelho bíblico. Não se propõe, como igreja, a oferecer a solução, como ensina a Bíblia em Tiago 2:15-16 “E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?” Tiago 2:15-16.
Por outro lado, confundem o papel da igreja, que deve produzir resultados através da fé, – algo relacionado ao reino espiritual -, com papel do Estado, em que os acontecimentos, prós ou contra a população, ocorrem por escolhas políticas, boas ou ruins. Por conta disso, muitos líderes evangélicos fazem guerra contra os desalinhados politicamente e afagos aos seus parceiros. Apoiam candidatos visando a seus próprios interesses e de seus grupos, deixando a sociedade ao relento sem ter quem a defenda. As guerras e afagos não são frutos das necessidades do povo, nem de suas próprias igrejas, mas de acordos, muitas vezes nada republicanos ou cristãos.
Para os evangélicos nesta situação (claro que não são todos) vencerem este atraso comportamental, é importante que reflitam e parem de delegar seus votos a líderes midiáticos ou feudais que não os defendem em suas agruras e não são vozes confiáveis para defender melhorias no país, pois desconhecem os temas nacionais relevantes ou, se os conhecem, não usam sua força para conscientizar os brasileiros ou para pressionar os governos às mudanças necessárias. Preciso ressaltar que há também os líderes que são conscientes e orientam bem seu rebanho. Normalmente esses não usam voto de cabresto e nem blindam seus ‘políticos preferidos’ de cobranças do povo. Aliás, incentiva seus liderados a serem exigentes.
Os cidadãos, evangélicos ou não, precisam votar conscientemente, se informar, para que tenhamos pessoas preparadas, sérias e que possam mudar a história do
Brasil para melhor. Nestas eleições, vamos estar atentos aos candidatos que defendam de forma clara e consistente os princípios que acreditamos, especialmente em defesa da vida, da família e da liberdade para professarmos a nossa fé e pregarmos a mensagem que cremos, mas sem deixar de lado as reformas que o Brasil precisa para que nós, nossos filhos e as gerações futuras possamos ter um Brasil melhor para todos.
Por Rubens Teixeira
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